terça-feira, 9 de outubro de 2007
Saudade
Aparece inesperadamente,acompanhada por uma nostalgia, vem dissimulada sob a forma de um lugar, uma pessoa, uma música, um cheiro ou uma fotografia. Apodera-se da mente para nela projectar o passado; passado esse que um dia foi presente mas que ficará protegido com uma película à prova do tempo, onde nem o pó nem as teias de aranha conseguem chegar porque a memória encarrega-se de nos fazer reviver os filmes vezes sem conta, com o mesmo desejo e a mesma intensidade.
A tela está mesmo á nossa frente, os olhos nela mergulhados, abstraem-se de tudo o resto á volta.
Ficámos estáticos a olhar para o invisível enquanto um turbilhão de emoções toma conta de nós e nos leva aos extremos: da alegria á tristeza, do riso ao choro, da felicidade á infelicidade, da euforia á apatia. O estômago aperta de tal maneira, quase sufoca.
É tudo tão estranho...o passado ressuscita, embora intocável parece que está acontecer hoje e pela primeira vez, mesmo diante de nós...refiro-me à saudade,à que anda de mãos dadas com o pasado,à que passeia pelos recônditos lugares do coração,à que teima em aparecer sem avisar. Não tem hora nem lugar marcados, podemos estar sozinhos, embalados no silêncio da noite, na serenidade dos fins de tarde ou acompanhados, por entre risos e entoantes gargalhadas, com amigos e familiares, nas jantaradas ou em conversas prolongadas, sorrateiramente apanha-nos desprevenidos, toma-nos de assalto a psiqué, invade-nos com uma naturalidade e espontaneidade...
Saudade algo efémero, vai e vem como uma onda, perpetua momentos que se tornam inesquecíveis, uma ponte entre o passado e o presente...
Saudade, a palavra do povo português a quem o fado e o mar invocam à nostalgia e ao passado... memórias que sobrevivem ao desgaste temporal...doces recordações
como eu lhes chamo, mais doces que algodão doce porque não carregam a mágoa, a frustração e o pesar dos dias; doces porque o fado não me vai na alma...há muito que essa anda perdida pela Andaluzia; doces porque vêm acompanhadas por um doce sorriso que abre caminho caminho ao presente e o pinta com várias cores, deixando para trás o sépia juntamente com o preto e o branco...
E eis que á frente surge uma longa estrada que vai sendo percorrida quilómetro após quilómetro, o que ficou para trás deixou-se de avistar para nos mostrar que a estrada continua e o caminho está mesmo adiante dos nossos olhos...
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